sábado, 16 de abril de 2011

Goela abaixo (Página 22 FGV CES)


Por Fábio Rodrigues (Revista Página 22, FGV/CES)

Na letra da lei e dos discursos políticos, a participação popular é bem-vinda. Na prática, em muitos casos, estamos falando com as paredes
Lula pegou no meu braço e disse: ‘Não vamos empurrar esse projeto goela abaixo de ninguém”, lembra dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu.  Esse gesto tranquilizador aconteceu em março de 2009 durante um encontro entre o religioso e o (então) presidente da República para falar sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte.  Dom Erwin saiu de Brasília com uma promessa solene de Lula de que uma nova audiência seria marcada para que eles conversassem mais sobre os (muitos) receios da comunidade local.  “Infelizmente, esse diálogo nunca aconteceu”, lamenta o austríaco, que chegou como missionário ao Xingu em 1965 e nunca mais saiu de lá.
No fim das contas, tudo indica que Belo Monte vai – sim, senhor!  – ser empurrada goela abaixo de todo mundo.  A pressão para que a usina saia do papel tem sido tão intensa que em janeiro o então presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Abelardo Bayma Azevedo, pediu demissão depois de apenas dez meses no cargo.
Embora beire o anedótico, a conversa entre d. Erwin Kräutler e o ex-presidente está recheada de simbolismo.  Simpatize-se ou não com Lula, deve-se reconhecer que ele possui uma certa imagem de integridade.  É o que torna o caso chocante.  Ou Lula contou uma mentira deslavada na cara de um piedoso homem de Deus, ou não podia fazer nada para ajudar.  Não sabemos a versão correta.  Mesmo assim, é difícil imaginar uma ilustração mais bem-acabada das dificuldades que a sociedade sente ao tentar fazer sua opinião ser ouvida.
Um exemplo.  Ganha um doce quem já souber que o Ministério do Planejamento tem até o dia 31 de agosto para encaminhar o texto final da edição 2012-2015 do Plano Plurianual (PPA)  [1] para o Congresso Nacional.  Quem não estiver sabendo de nada não precisa se sentir mal, a verdade é que o processo de elaboração do novo PPA tem sido pouquíssimo divulgado.
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